Os passos de Neemias: Do Vale da Amoreira para o título da NBA

Neemias Queta consagrou-se campeão da NBA ao serviço dos Boston Celtics, ficando assim, para a história do basquetebol português. Hoje iremos recordar todos os passos que o “nosso” Neemias deu para chegar ao topo da montanha do basquetebol mundial.

Começou tudo na capital do basquetebol em Portugal, no Barreiro. Foi aí, mais especificamente, no Barreirense, onde o gigante português começou a fazer seus os primeiros cestos, fez a estreia como sénior em 2016 e transferiu-se para o Benfica, onde jogou um ano. A sua passagem pelos encarnados foi crucial antes da sua transferência para Utah.

A explosão portuguesa

Antes da sua entrada no basquetebol universitário, o menino do Vale da Amoreira tinha participado no Europeu sub-18 e sub-20. No Europeu sub-20 B, Neemias liderou Portugal à vitória do torneio com média de 14,3 pontos por jogo, o que o colocou em segundo na equipa, liderou Portugal com 10,3 ressaltos, ficou em primeiro no torneio em desarmes de lançamento, com 2,9, e registrou dois duplos-duplos durante o torneio, incluindo um quase triplo-duplo contra os Países Baixos, marcando 20 pontos, agarrando 14 ressaltos e bloqueando nove lançamentos.

Utah e o sonho cada vez mais próximo

Neemias mudou-se para os Estados Unidos em 2018, com o objetivo de se desenvolver melhor para uma ambição maior, a NBA. A ambição de querer chegar lá e quebrar a “maldição” dos portugueses na NBA fez com que Neemias trabalha-se arduamente todos os dias e se destaca-se pela sua fantástica ética de trabalho.

O poste luso esteve de 2018 a 2021 a proteger o aro de Utah State, onde vestiu a camisola por 86 vezes diferentes. Neemias ganhou bastante notoriedade no basquetebol universitário pelos seus prémios individuais, e olhem que não foram poucos.

Honras universitárias:

  • 1ª equipa All-Mountain West (2021)
  • 2ª equipa All-Mountain West (2019, 2020)
  • Equipa do torneio All-Mountain West (2019, 2020, 2021)
  • 1ª equipa NABC all-district 17 (2021)
  • 2ª equipa NABC all-district 17 (2019, 2020)
  • Rookie do Ano da Mountain West (2019)
  • Jogador Defensivo do Ano da Mountain West (2019, 2021)
  • Jogador do Ano do Distrito VIII da USBWA (2021)
  • All-District VIII da USBWA (2019)
  • Melhor Jogador Defensivo Nacional da Bleacher Report (2021)
  • Menção Honrosa All-American da AP (2021)
  • Finalista do Jogador Defensivo do Ano da Naismith (2021)

Nos 86 jogos que Neemias disputou em Utah, obteve médias de 13.2 pontos, 9 ressaltos, 2 assistências e 2,5 desarmes de lançamento por jogo, em mais ou menos 28 minutos.

O fracasso

Nem tudo correu como esperado para a estrela portuguesa. Neemias, em 2019, participou no Draft Combine com intenções de se candidatar ao Draft desse mesmo ano, mas após enfrentar a dura realidade que ainda não estava maduro o suficiente para dar o passo para a NBA, Neemias voltou a Utah para ganhar mais experiência e preparar-se melhor para a “Big Boy League” (NBA).

A persistência e o Draft Combine de 2021

Neemias não baixou os braços e continuou a abafar os adversários. Após dois anos bem aproveitados em Utah após o fracasso de 2019 no Draft Combine, Neemias volta a participar na edição de 2021, desta vez, melhor preparado.

As fortes demonstrações de Neemias chamaram a atenção de vários analistas e já era uma certeza que iriamos ter um português na NBA. Já não era uma questão de “se vai”, mas sim, ” para onde vai?”.

O poste português foi o participante mais alto (211,46cm sem sapatos e 214,63cm com sapatos), com a envergadura mais longa (223,52cm) e o alcance em pé mais alto (285,75cm).

A NBA

Dia 30 de junho de 2021, às tantas e pouco da manhã, Neemias Queta foi escolhido pelos Sacramento Kings no draft da NBA, na posição 39, já na segunda ronda. Foi neste dia que Portugal conseguiu ver “um dos seus” na principal liga de basquetebol do mundo. Pessoas que nunca tinham visto um jogo de basquetebol na sua vida sabiam quem era o tal de Neemias Queta. Um fenómeno que viria a alterar o basquetebol nacional.

Sacramento e Stockton Kings

Neemias foi escolhido pelos Sacramento Kings e já se sabia que iria passar uns meses iniciais complicados, no fim do banco e a jogar pelos Stockton Kings, afiliada da G-League dos Kings. Neemias, como já sabemos, nunca baixou os braços e trabalhou arduamente para alcançar os seus sonhos.

Dia 18 de dezembro desse mesmo ano, com uma crise de baixas na NBA por causa da COVID-19, os Sacramento Kings não tinham muitas opções e subiram Neemias Queta para a rotação, num jogo frente aos Memphis Grizzlies.

Neemias, tornava-se assim, no primeiro português a pisar num campo da NBA, um momento marcante na história do desporto nacional. O poste luso teve um grande impacto na partida, mandando logo 2 “abafos” à portuguesa e apanhando 5 ressaltos.

Uns dias depois, a 10 de janeiro de 2022, Neemias fazia, na altura, o melhor jogo da sua carreira na NBA frente aos Cleveland Cavaliers. Num encontro onde o jovem do Barreirense marcou os seus primeiros pontos na NBA e só quis parar aos 11. Queta também agarrou 5 ressaltos nessa disputa.

Na G-League, ao serviço dos Stockton Kings, Neemias era a “superestrela” do espetáculo. No tempo que vestiu a roxa e preta, o poste teve médias de 16.6 pontos, 8.4 ressaltos e 1.9 desarmes de lançamento por jogo.

Neemias também foi reconhecido como um dos melhores jogadores da temporada 22/23, ficando em segundo na votação de MVP da G League e ficou na 1ª equipa All-G-League e na 1ª equipa All-Defensive.

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Boston e o anel português

Após duas épocas ao serviço da cidade de Sacramento, Neemias Queta foi dispensado pela equipa californiana a 12 de Setembro de 2023, no entanto, não iria demorar muito tempo até uma nova porta se abrir para a estrela barreirense. Foi logo a 16 de setembro que Neemias Queta fechou com os Boston Celtics, uma das equipas mias cotadas para vencer o título da NBA.

Ao inicio, o português concordou num contrato two-way, que permitia jogar pelos Boston Celtics e pelos Maine Celtics, na G-League.

Quando a notícia foi reportada, a opinião pública estava bastante dividida, com uma parte achando que esta mudança ia “matar” a carreira de Neemias na NBA, enquanto outros se mantinham optimistas, acreditando que Boston iria dar a utilidade merecida ao poste português.

Nós todos, por agora, já sabemos o que aconteceu. Foi a época onde Neemias teve mais oportunidade na NBA, aproveitando os descansos de Al Horford e as lesões de Luke Kornet e Kristaps Porzingis para ganhar minutos e crescer a sua reputação dentro da maior liga de basquetebol do mundo.

Com as boas exibições, incluindo momentos espetaculares, duplos-duplos e energia ilimitada, Neemias, em 31 jogos, teve uma média de 5,5 pontos e 4,4 ressaltos por jogo. Quando utilizado o método “Per 36”, método que revela a possível ficha de estatística de um jogador quando joga 36 minutos (minutos de uma estrela da NBA), Neemias tem em média 16.6 pontos, 13.2 ressaltos e 2.3 “abafos” por disputa.

Dia 9 de abril, o poste assinou um contrato standard, com uma opção de equipa para a próxima temporada, possibilitando assim, a abertura das portas dos Playoffs para Portugal.

Os Boston Celtics consagraram-se campões da NBA nesta madrugada de terça-feira e Neemias Queta voltou a fazer história, ao ser o primeiro português a levantar o troféu Larry O’Brien.

No decorrer da festa de Boston, Neemias afirmou que gostaria de trazer o troféu para Portugal: “Espero poder levar (o troféu para Portugal).”

Obrigado, Neemias

Quem diria que um simples miúdo do Vale da Amoreira estaria hoje a levantar o troféu mais cobiçado por todos os basquetebolistas. Mostrou garra, vontade e muita bravura, um português típico.

Em nome da NBAPORTUGAL, da comunidade de basquetebol nacional e dos portugueses, um obrigado! Serás para sempre recordado pelas tuas conquistas e pelo teu impacto na modalidade, Neemias Esdras Barbosa Queta.

Daniel Pimpão

Sou um apaixonado por basquetebol, vivo e respiro este desporto que nos tira horas de sono. Tenho 19 anos e um sonho de um dia ser um dos melhores jornalistas portugueses. Estou a tirar Comunicação Social em Abrantes, no âmbito de jornalismo. Olhar sempre para a frente, mas trabalhar com a cabeça para baixo.

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