Maturidade 1-0 Talento

Semi-surpresa no Mundial: a seleção sérvia, apontada por muitos apostadores e analistas como a grande favorita a vencer o título mundial, foi categoricamente eliminada por 97-87, por uma Argentina que superou com distinção o primeiro teste “a sério” neste torneio. O confronto foi equilibrado, mas a turma de Sergio Hernandez pareceu sempre mais confiante no seu jogo – a máxima vantagem sérvia foi de 2 pontos – , não abdicando da sua forma de jogar contra um adversário em teoria superior. Já os sérvios abusaram da passividade na reação aos turnovers e nos triplos forçados.

Do lado argentino, o maior destaque tem de ser dado a Facundo Campazzo. O base do Real Madrid realizou uma super-exibição, com 18 pontos, 12 assistências, 6 ressaltos e 3 steals. Para se ter uma ideia, há 25 anos que um jogador não fazia 15+ pontos, 10+ assistências, 5+ ressaltos e 3+ steals num jogo do Mundial: Toni Kukoc foi o último a fazê-lo, contra o Canadá, em 1994. Além de Campazzo, brilharam os suspeitos do costume: Scola continua a sua lenda FIBA (20 pontos, 5 ressaltos e a marcar na jogada que “matou” as esperanças sérvias), Garino voltou a ser um problema com a sua precisão no tiro (15 pontos, 59% de campo, 50% de 3), Deck impressionou com a sua mobilidade, estatura e competência defensiva (13 pontos, 8 ressaltos e 2 steals) e Vildoza anotou 11 pontos em apenas 14 minutos.

Do lado sérvio, a rotação foi menor do que nas partidas anteriores, Jokic finalmente começou como titular, mas não foi suficiente. A estrela dos Nuggets realizou uma grande partida, com 16 pontos, 10 ressaltos e 5 assistências, mas abusou dos turnovers (5) e pareceu, mais uma vez, que a equipa não consegue explorar ao máximo a sua inegável qualidade. Bogdanovic foi mais uma vez o dono da bola e anotou 21 pontos, lançando 46%, Bjelica marcou 18 pontos, mas esteve abaixo do seu nível no tiro (5/17) e Lucic também chegou aos dois dígitos (12 pontos).

Quanto ao encontro, teve um equilíbrio repartido até aos 5 minutos finais, altura em que se deu o momento chave: duas jogadas and-one seguidas, de Laprovíttola e Scola, transformaram uma vantagem de 6 numa vantagem de 11 pontos, a 3:17 do fim, fazendo o cheque mate aos sérvios. De seguida, a Sérvia começou a lançar desesperadamente de triplo, ainda conseguiu alguns ressaltos ofensivos, mas só conseguiu mais um triplo até final, por Bogdanovic.

Esta é uma vitória da maturidade e segurança dos argentinos. Scola e os seus niños não se amedrontaram, realizando uma exibição em crescendo, matando o adversário através de uma das suas maiores armas: os triplos. Até aqui, a Argentina lançara 35,3% de 3, hoje lançou 44,4%. Em oposição, a Sérvia vinha de uma taxa de concretização de 42,1%, hoje não passou dos 28,6%. Além disso, os argentinos foram exímios a aproveitar os turnovers sérvios, marcando 27 pontos dessa forma, ao passo que a Sérvia apenas anotou 16 pontos nesse momento do jogo. Foi também um jogo que demonstrou a falta que Milos Teodosic faz a esta equipa. Jokic é um génio na criação a partir do interior mas, quando o nível subiu, ficou provado que falta qualidade de armação a partir do exterior. Bogdanovic ainda colmatou essa lacuna contra adversários mais frágeis, mas não tem essas características nem, nesta fase, o IQ de Teodosic.

A Argentina chega assim às meias finais do Mundial pela primeira vez desde 2006 , onde ficou no quarto lugar. Espera agora, com mais um dia de descanso, pelo vencedor do Estados Unidos-França. Já a Sérvia sai deste jogo com um sentimento de desilusão, depois de ter sido considerada a grande favorita a vencer a prova e ter feito 10-0 nos jogos de preparação. Terá agora de se contentar com a disputa do quinto lugar.

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