Maratona sorri aos espanhóis
No certamente mais longo jogo desde Campeonato do Mundo, a Espanha carimbou o passaporte para a final da competição, batendo a Austrália por 95-88. Um jogo emotivo, mas nem sempre bem jogado, em que o nó só desatou ao fim de dois prolongamentos. Nessa fase, a experiência de Gasol e Llull apareceu para resolver, ao passo que Mills revelou muita precipitação e Ingles não acertou com o cesto.
Quanto ao encontro, depois de um primeiro quarto equilibrado, a Austrália conseguiu manter sempre uma margem confortável para a Espanha, chegando a liderar por 11 pontos. Porém, a 8.7 segundos do fim do último período, Marc Gasol colocou a Espanha com 1 ponto de avanço. Na jogada seguinte, Mills foi para a linha de lança livre, mas apenas converteu um. Prolongamento. No primeiro tempo extra, o nervosismo apoderou-se das duas equipas, que pareciam com mais medo de perder. Já no segundo tempo extra tudo mudou: os espanhóis começaram a ser mais acertivos nos lançamentos e implacáveis na marcação a Mills, disparando para um parcial de 10-0. Nesse período, Sergio Llull foi crucial: contribuição direta para todos os pontos da Espanha, com 2 triplos e duas assistências. Baynes e Mills ainda responderam com dois triplos, mas já era tarde. Tal como no Rio de Janeiro, a Espanha voltou a ser o carrasco da Austrália.
Do lado dos vencedores, os destaques vão para Marc Gasol, Sergio Llull e Ricky Rubio. O poste dos Toronto Raptors esteve a um nível superlativo em praticamente todos os parâmetros estatísticos, com 33 pontos, 4 assistências e 2 desarmes, impressionando a maneira como domina todos os fundamentos do basquetebol moderno. Todavia, esteve abaixo do normal nas tabelas, com apenas 5 ressaltos defensivos num jogo de 50 minutos (Bogut dominou-o neste campo). Já Rubio não esteve tão vistoso mas realizou uma partida fenomenal, com 19 pontos, 12 assistências, 7 ressaltos, 4 steals e, acima de tudo, uma maturidade no ataque e performance defensiva de classe mundial – a forma como limitou Mills foi uma das chaves da vitória. Por fim, Llull. A lenda do Real Madrid até não esteve brilhante nas percentagens de tiro, mas a sua classe e experiência vieram ao de cima quando foi necessário: 17 pontos, 6 assistências e os 2 triplos que acabaram com o jogo.
Do lado australiano, Mills foi o dínamo habitual no ataque com 34 pontos, mas esteve pobre no capítulo das assistências (agarrou-se muito à bola) e cometeu 7 turnovers. Já Bogut esteve fortíssimo nos ressaltos (9 – 4 dos quais ofensivos) e ainda ajudou com 12 pontos. Kay chegou mesmo ao duplo-duplo (16 pontos, 11 ressaltos – 7 dos quais ofensivos), mas esteve desastrado nos triplos (0/3). Pior esteve Joe Ingles. O extremo dos Jazz realizou uma partida plena de esforço e responsabilidade, mas esteve completamente de mira desafinada, com apenas 4 pontos e um lançamento de campo concretizado em 9 tentados. Compensou nas assistências (7) e nos ressaltos (10), mas a sua desinspiração no tiro reduziu a capacidade de pontuar praticamente a Mills, o que se revelou fatal.
A Espanha venceu assim à custa da sua forte e coordenada defesa, que forçou os australianos a lançar 38% de campo, 25% de triplo e a 22 turnovers, compensando a menor força nas tabelas (57-43 em ressaltos para a Austrália).
A seleção ibérica está de volta à final de um Mundial 13 anos depois. Em 2006, derrotou a Grécia por 70-47, arrecadando o ouro. Se o fizer novamente, igualará Estados Unidos, Jugoslávia, União Soviética e Brasil com 5 títulos mundiais. Mas para isso terá de ultrapassar a Argentina ou a França. Já a Austrália consegue a melhor prestação de sempre, superando os quintos lugares de 1982 e 1994.