Francis, na rua aos 18, na NBA aos 22

Steve Francis é um personagem incrível. Já o era quando se mostrava na NBA, com três seleções para o All-Star Game quando ainda usava as cores dos Houston Rockets. Um ícone no Texas cuja carreira acabou por fracassar após mudar-se para Orlando em 2004.

Mas, para entender a pessoa, precisamos conhecer a sua história muito especial. “Franchise” falou ao Players Tribune sobre a sua história difícil e comovente.

“Quatro anos antes de entrar num avião com Hakeem Olajuwon, quatro anos antes de desafiar Gary Payton, eu estava a vender drogas numa esquina em Takoma Park, Maryland. A minha mãe faleceu. O meu pai estava na prisão. Dezoito de nós morávamos num apartamento.

Eu tinha deixado o colégio. Sem estudos. Nada. Eu estava a construir o meu império de drogas durante o dia todo, a tentar não ser roubado. Jogava basquetebol à noite. Não estou a tentar glorificar o tráfico de drogas.

Mas têm de entender de onde eu venho. Cresci em DC na década de 1980 durante a epidemia de crack. O crack devastou toda a nossa comunidade. Foi como uma praga. Eu vi. Eu vivi isso. E eu vendi.

O meu pai era famoso em DC, os meus irmãos mais velhos também. Mas a minha mãe insistiu com eles para que eu nunca fosse colocado lá. Consegui o meu primeiro emprego quando tinha dez anos. Eu era o “menino do telefone”. Foi fácil. Eu só tinha de esperar na cabine telefónica, parecendo inocente. E quando o telefone tocava, tinha de atender. Eram sempre pessoas a procurar drogas ou prostitutas. Eu dizia a eles onde encontrar os revendedores e fazia isso o dia todo.

Ficava nessa esquina, a fazer o que tinha de fazer para sobreviver. Já fui roubado um milhão de vezes. Levei um milhão de vezes. Mas, honestamente, os tiroteios não era o que mais me assustou. Era … normal.

O mais assustador eram as drogas. Seringas. Parei totalmente de jogar basquetebol quando a minha mãe morreu de cancro. Eu tinha dezoito anos. O meu envolvimento com o tráfico de drogas disparou.

Tive a oportunidade de sair. Foi o corpo docente de San Jacinto no Texas que me ajudou. A minha avó convenceu-me de que era isso que minha mãe queria para mim. Foi um choque cultural. 30.000 brancos e eu. Mas eu tive estabilidade. Uma cama. Um lugar na equipa.

Então fui para a Universidade de Maryland quando tinha 21 anos. Basta pensar nisso, aos 18 anos, eu traficava drogas e era roubado. Aos 22, fui escolha do Draft e cumprimentei David Stern.”

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