O polémico caso Kurucs-Barcelona e como os Nets conseguiram a steal do Draft

Poucos fãs de NBA tinham ouvido falar de Kurucs antes de ingressar nos Brooklyn Nets e muitos continuaram sem o fazer depois de ser escolhido já na 2ª ronda, na 40ª posição. Depois de um início de época algo discreto, agora que conseguiu mais minutos tem vindo a mostrar o que vale e tem jogado de forma fenomenal: com ele no cinco inicial, os Nets estão 6-1 e o jogador tem tido médias de 12.9 pontos e 6 ressaltos por jogo, tudo isto a lançar 53.3% de campo e 40% de triplo. Apesar de no embate frente aos Bucks não ter feito um bom jogo, nos três jogos anteriores o letão chegou a subir os seus números até 17.7 pontos e 8.3 ressaltos por jogo, lançando também uns excelentes 55.3% de três pontos. Não está só a jogar bem acima das expectativas para um jogador de segunda ronda como está a ter exibições dignas não só de primeira ronda mas como de um jogador escolhido bem lá para cima nas lottery picks. Mas, afinal, como deixou toda a liga escapar um talento destes para posições tão baixas do Draft?

Rodions Kurucs era uma das grandes promessas do basquetebol balcã. Começou a sua carreira profissional ao assinar o seu primeiro contrato em 2014, com o clube do seu país BK VEF Riga, depois de ter jogado toda a sua infância nos escalões jovens. Rapidamente ganhou o seu lugar no plantel tendo jogado regularmente tanto na LBL, o principal escalão do campeonato letão, como na EuroCup. Não tardou até uma grande powerhouse do basquetebol europeu o ir resgatar…

Em Julho de 2015 assinou um contrato de 4 anos pelo Barcelona, completanto assim a sua transição para um gigante europeu e dando mais um grande passo na sua promissora carreira. Começou a jogar pelos juniores do clube até que, na época seguinte (2016/17), mal fez 18 anos, passou para a equipa B. Rapidamente mostrou que tinha capacidade para mais e muitos olheiros começavam a mirar o atleta. Em certo ponto, o Draft Express chegou a posicioná-lo mesmo como uma futura lottery pick mas, estranhamente e ao contrário do que era esperado, os seus minutos não começaram a aparecer. Antes pelo contário.

Kurucs acabou por conseguir apenas 44 (!) minutos com o principal escalão do Barcelona. Já Luka Doncic, por exemplo, jogou quase 900 minutos pelo rival da capital espanhola, o Real Madrid. Mario Hezonja, no seu último ano pelo Barcelona, jogou 582 minutos pela equipa A. Mesmo pela equipa B, ficou-se por uns míseros 20 minutos divididos por 16 jogos. Como poderia um das mais quentes promessas da Europa passar de bestial a besta num tão curto período de tempo?

Mike Schmitz, da ESPN, escreveu um artigo no passado mês de Abril onde falou como o cenário ficou feio depois de Kurucs ter-se mostrado desinteressado em assinar uma extensão de contrato com o Barcelona.

O Barcelona tem vindo a dificultar a vida a Kurucs de forma a evitar que os olheiros da NBA o vejam. Muitos olheiros chegaram a ir a jogos na expectativa de o ver jogar só para serem surpreendidos com a sua ausência tanto do cinco como até do banco. Não deixavam nenhum olheiro ir ao treinos sequer. Chegou ao ponto de uma equipa da NBA ter um olheiro dedicado exclusivamente a Kurucs na esperança de conseguir analisar a detalhe os poucos minutos que lhe viriam a dar.

Kurucs acabaria por jogar apenas 903 minutos nas suas duas últimas épocas pelo clube catalã, sendo que desdes 903 apenas 44 pela equipa principal. Wendell Carter Jr., por exemplo, jogou 997 minutos por Duke na sua primeira e última temporada a jogar na NCAA.

Mesmo depois de toda a resistência e contrariedade catalã, ao contrário do que aconteceu no Draft de 2017, em que se chegou a inscrever mas mais tarde retirou a mesma candidatura devido à falta de minutos e exposição aos franchises americanos, Kurucs avançou mesmo com a sua inscrição como um dos 236 underclassed prospects para o Draft de 2018.

Outrora visto como possível lottery pick, Rodions acabou por ser relegado para a 2ª ronda do Draft, sendo escolhido na 40ª posição pelos Brooklyn Nets (lembram-se daquela equipa da NBA ter um olheiro para seguir exclusivamente Kurucs?). Draft feito, jogador escolhido, problema resolvido, certo? Não foi bem assim. O Barcelona não apresentava grande vontade de dar o braço a torcer na negociação com os Nets pela rescisão do contrato de Rodions. O valor estipulado no contrato era $5 milhões enquanto que a NBA limita todas as equipas a pagar no máximo $700 mil pela rescisão de contrato de um jogador que jogue fora dos EUA. As negociações foram extensas, tão extensas que impediram Kurucs de jogar na Summer League, mas eventualmente o Barcelona cedeu e aí sim estava totalmente pronto para ingressar na liga norte-americana.

Foi longa e dura a luta de Rodeons Kurucs por um lugar nos holofotes da NBA mas, quase três meses depois, já provou que veio para ficar. Foi trabalhando, foi ganhando o seu espaço e, se continuar assim, poderá certamente dizer-se que foi um dos melhores rookies da class of 18′ e certamente a steal do Draft de 2018. E, de certa forma, bem que os Nets podem agradecer ao Barcelona.

Com a ascensão do talento europeu, será que iremos assistir a ainda mais casos como este? Os europeus nunca foram tão procurados e esta tendência só deve vir aumentar. Quão longe irão os clubes europeus para proteger os seus mais preciosos talentos?

Passado três anos, estou finalmente novamente a jogar basquetebol com alegria.

Kurucs depois de marcar 15 pontos e 6 ressaltos frente aos Washington Wizards

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